terça-feira, 12 de maio de 2009

A Nova República Velha

Peguei-me pensando hoje em uma importante questão histórica que nos trouxe até o ponto em que estamos hoje, no Brasil: As oligarquias que dominaram o cenário político no início do séc. XX, no período conhecido como República Velha ou República do café-com-leite ou República das Oligarquias.

Era uma época em que a elite brasileira - os grandes latifundiários - disputavam entre si pelo poder regional nos diversos estados do país. Aqui no sudeste, como de praxe, esses senhores decidiram que sua visão de governo era a melhor para todo o país e seus interesses os movimentaram a lutar para chegar à presidência. Como perceberam mais tarde, negociar era bem mais vantajoso do que usar a força, então os estados de Minas Gerais e São Paulo chegaram a um acordo: ora um elegia um presidente à sua escolha, ora outro.

Tal prática ficou conhecida como Política do café-com-leite, que não tem nada a ver com o fato de São Paulo, na época, ser grande produtor de café e Minas de leite, como dizia a "tia" Lalá no ensino fundamental (Sinto muito ter que lhes fazer esta triste revelação , mas o nome desta política foi uma mera formalidade de historiadores. Perdoem-me pelos corações despedaçados).

A grande questão é que quase nenhum dos candidatos aos poderes locais e à presidência tinham propostas sérias ou sequer um ideal político, limitando-se a atender aos interesses das oligarquias que o apoiaram. O poder pelo poder. Muita imagem e poucas medidas. Nem discurso era necessário, pois as eleições eram fraudadas na cara dura e não havia necessidade de se conquistar o apoio do povo; O voto era de cabresto, ou seja, os senhores de engenho ordenavam seus trabalhadores a votar no candidato que eles queriam. Como o voto era aberto, era muito mais fácil controlar em quem se votava. Tudo isso contribuindo para dar total autonomia às oligarquias.


Trazendo para os dias atuais, muitos desses valores ainda permanecem inalterados. A prepotência dos estados do sudeste em querer impor sua visão ao restante do Brasil continua; as eleições fraudulentas ainda acontecem em alguns municípios; A falta de propostas e ideais ainda é uma triste realidade(em alguns casos é quase possível ler na testa do candidato que aparece na tv "Eu só quero seu dinheiro, trouxa"); em alguns lugares ainda existem os chamados "currais eleitorais", que nada mais são do que uma versão moderna do voto de cabresto. Todo o nosso sistema eleitoral é uma piada.

Em tempos de eleição, os candidatos trocam ofensas e calúnias entre si e ficamos sabendo mais fofocas acerca da vida pessoal dos sujeitos do que seu passado político e seus reais interesses.


Grande parte dos votantes é analfabeto funcional e/ou político, o que se reflete quando o candidato escolhido para governar é "o mais bonito" ou o que discursa com palavras difíceis (Sim, muitas pessoas acreditam que a aparência física é um grande quesito a se considerar na hora de escolher seu futuro presidente/prefeito/governador/senador/deputado); outra parte não está nem aí para essas questões e vota em qualquer um porque "político é tudo igual. Tudo ladrão" e outra simplesmente está completamente alienada. Apenas uma minoria vota com consciência, e uma parcela menor ainda cobra resultados depois das eleições. É mais fácil cruzar os braços e esperar que tudo caia do céu - e culpar o governo por não agir - do que pôr as mãos à obra.


Infelizmente, este é um ciclo vicioso que permanecerá ainda por muitas décadas, até que alguém dê a cara a tapa e resolva investir pesado em educação, conscientização e revolução.

Como disse Lima Barreto: O Brasil não tem povo, o Brasil tem público.

Abraços

Jack Waters

Um comentário:

  1. obrigada, seu post me ajudou muito com meu slide de história !
    Normalmente eu faço o estilo "ctrl+c - ctrl+v", mas seu texto ficou tão legal, que me deu vontade de ler, e deu até para prender.

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