quinta-feira, 7 de maio de 2009

Ensaio sobre a solidão

Muitas pessoas não gostam de ficarem sós, enquanto outras, por diversos motivos, abraçam sua solidão de corpo e alma. Todos nós, entretanto, sentimo-nos diversas vezes solitários, mesmo no meio de uma multidão. Por que temos tanta necessidade de estarmos ligados a um grupo, mesmo que, às vezes, não nos encaixemos nele?

Vivemos em um mundo capitalista e globalizado, que significa que as pessoas trabalham juntas, convivem de diversas formas, encontram-se frequentemente, conversam, namoram, divertem-se, riem e choram juntas, mas, ao mesmo tempo, cada uma está lutando para garantir a própria sobrevivência, em detrimento dos outros. Parece paradoxal e de fato é. As barreiras que nos dividem fisicamente estão cada vez menores, no entanto, a humanidade ainda está longe de uma união fraternal.

Os meios de comunicação e de transporte nos têm aproximado, mas apesar de tudo, sentimo-nos cada vez mais distantes. Nossa necessidade íntima de estarmos juntos, fazendo parte de algo maior, é a base de toda religião, sociedade, clubes, comunidades, "panelinhas" e ação social. O ser humano tem a tendência de criar grupos menores dentro de grupos maiores, compartilhando solidões de forma a minimizar a sua própria.

Caminhando no sentido oposto, alguns de nós - e eu me incluo nesta categoria - são naturalmente solitários e gostam de preservar sua solidão. No meu caso, diria que grande parte do que sou - que são minhas idéias - surgiu em meio a devaneios e reflexões solitárias. Como disse Sócrates, sabiamente: A filosofia não é possível enquanto o indivíduo não se voltar a si mesmo. Tinha razão. A solidão nos obriga a pensar, a passar um tempo com nós mesmos, a nos avaliar e a nos conhecer (esta, aliás, é a idéia por trás da imagem do blog, de um homem solitário a fitar o horizonte infindo) e isso pode assustar as mentes desacostumadas.

Algumas pessoas me vêem como um cara taciturno, solitário. Em partes, isso é verdade. Não diria que sou triste, apenas não sou feliz o tempo todo. Dou-me o direito de estar alegre, pensativo ou abatido quando realmente estiver me sentido assim, justamente por respeitar meu estado de espírito nas diversas circunstâncias. Muitos não se dão conta, mas fingir para si mesmo e para os outros de que tudo está bem e que estamos sempre contentes é uma tortura para nossa mente. Não é de surpreender, a sociedade muitas vezes nos cobra isso. Temos que estar sempre bem e felizes diante dos outros, mas choramos escondidos quando estamos sós.



Quando confrontados com nós mesmos, não é preciso fingir. Está tudo bem sentir-se mal, afinal somos seres humanos que sentem e pensam e é natural nos sentirmos deslocados e melancólicos.

No entanto, não é fácil ser solitário. Não é fácil abandonar o resto do mundo , isolar-se das pessoas temporariamente, ter um espaço só seu, para pensar e ser um pouco mais humano e não mais uma máquina social, que age fingindo sentimentos e idéias. Experimente tentar ficar só durante um tempo e verá que sua família, amigos e até mesmo outras pessoas que você mal conhece logo vão tentar te "animar", tentar te trazer de volta ao grupo, ao convívio dos seus. Este é já um comportamento tão entranhado em nossa sociedade que acaba por ser tornar um ciclo vicioso.

O grande problema é que, se estamos sempre juntos de alguem, não temos tempo para pensar e isso nos leva à alienação e à infelicidade, por não nos conhecermos. Não sabemos quem somos, o que nos faz feliz, se estamos mesmo levando a vida que sonhamos, se realmente gostamos do que achamos que gostamos, etc. Temos um vazio interior que buscamos preencher de toda forma, seja consumindo bens materiais, seguindo modas ou adotando comportamentos e pensamentos alheios. Buscamos nos encaixar, mas nos esquecemos que o primeiro passo (e mais importante) é o auto-conhecimento, ou seja, sabermos quem somos e do que gostamos; sabermos qual o nosso papel no mundo e o que podemos fazer para sermos cada vez melhores. Daí a frase Conhece-te a ti mesmo.

Não é uma tarefa fácil, mas a recompensa vale o esforço. Prezo enormemente pela minha solidão - o que não quer dizer que não prezo também pelos meus amigos - e, apesar de parecer distante, um tanto louco e talvez triste, sou apenas o que me permito ser: um ser humano, demasiado humano, com todo o amor do mundo para compartilhar, começando pelo mais importante: o amor próprio.

Detesto quando alguem me tira a solidão, sem necessariamente me oferecer compania. - Nietzsche

Obrigado por compartilharem mais um tempo de suas vidas comigo.

Abraços,

Jack Waters

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