sexta-feira, 8 de maio de 2009

Pare o mundo que eu quero descer

Saudações, pessoal.
Já faz alguns dias que venho pensando se estou ficando velho precocemente, apesar dos meus quase 20 anos. Explico. Sou, como diz a música, apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior, trazendo muitas idéias e músicas na cabeça. Pertenço a uma realidade estreita de uma cidade pequena e ingênua, "tão distante do horizonte do país", portanto, as novidades que ocorrem no restante do mundo chegam aqui com atraso e não temos muita informação a respeito.

Para se ter uma idéia mais clara, usarei um exemplo: Ano passado viajei para Belo Horizonte por uns dias para tentar o vestibular da UFMG e fiquei hospedado no apartamento de um amigo meu. Fiquei impressionado com tantos aparatos tecnológicos que encontrei por la, que parece ser de uso comum das pessoas da cidade, como pendrives de alta capacidade, notebooks com tela sensível ao toque e identificadores de digitais, internet sem fio de alta velocidade, rede wi-fi, etc.

Quantas maravilhas da ciência! E as novidades nao pararam por aí. Fui a uma farmácia ali perto, onde encontrei uma moderna balança digital que também aferia a pressão e informava seu índice de massa corporal . A princípio aquilo me parecia um nave espacial de tão complexa e demorei um tempo para entender suas funções. Realmente impressionante! Em seguida fui ao shopping, para andar à toa por lá (na minha cidade não tem shopping, então já devem imaginar como fico igual a uma criança quando vou a um). Algo que sempre me impressiona nesses lugares é a quantidade e o tamanho das salas de cinema. Por aqui só existe um cinema, com uma única sala e que os filmes levam de 2 semanas a meses para chegar, depois da estréia mundial (o que reforça minha teoria de que minha cidade não faz parte do mundo), na maioria das vezes só em versão dublada e apenas em 2 horários por dia.

Aproveitei as ofertas de BH e comprei um pendrive de 4gb por 30 reais (por aqui, não sai a menos de 60), um mp3 e um pente de memória de 512mb por R$34 (o mesmo pente custa R$90 aqui). Realmente neste setor é tudo muito barato por lá. Voltei para casa abafando. Enquanto lá era praticamente redundante ter um pendrive, por aqui quase ninguem tem.

Em outra viagem recente a Niterói/RJ, conheci magníficos teatros e tive oportunidade de assistir a peças maravilhosas; também visitei o museu Niemeyer e foi absolutamente incrível! O único teatro da minha cidade quase nunca tem apresentações (apesar de agora estar dando uma melhorada). Nunca senti muita falta desses recursos até ter contato direto com eles e é neste sentido que às vezes me sinto deslocado e um tanto retrógrado.

Como disse anteriormente, as novidades por aqui chegam atrasadas e nossa principal fonte de comunicação com o restante do mundo é a internet e a televisão. Como só sabemos vagamente o que se passa la fora, ficamos presos a um passado de mudanças lentas. O povo ainda carrega muitos valores antigos e religiosos. Eu mesmo, ultimamente, tenho tido uma tendência a rejeitar as novidades e me prender ao obsoleto.

A maioria das bandas de rock que curto são dos anos 60 aos 90, com apenas uma ou 2 dos anos 2000; adoro música clássica e mpb e samba pra mim, só de raiz. Sem contar que troquei meu aparelho de som de cd por uma vitrola da minha avó, com 2 caixonas enormes de madeira e muitos discos (depois de ouvir o som do vinil, não quero nem mais saber de mp3) e agora inventei de querer um despertador daqueles antigos, que não funcionavam a pilha e tinham 2 "sininhos" em cima. Por algum motivo o retrô sempre me fascinou.


Ahhh, como isso é bom!

Tudo isso reforça minha idéia de que estou ficando ultrapassado. Preso a um saudosismo, não me interesso por quase nada que seja novo, principalmente em relação a filmes. Repudio as mega produções hollywoodianas e prefiro os clássicos, de no máximo até o início deste século. Adoro os de Charles Chaplin, Stanley Kubrick e os de ficção científica de Steven Spielberg. Ainda não vi Transformers, Hulk, Velozes e Furiosos, Homem Aranha 3, Eu sou a lenda, nem afins (e não tenho a menor pretensão de assistir).

No mundo virtual também me sinto deslocado. Não sei o que é Twitter, Myspace, Second Life, Flickr, nem nenhuma comunidade virtual além do orkut; Blogs, só acesso um ou outro e ainda uso o mIRC para conversar com meus amigos.

Gosto de carros antigos e de livros usados; meu pc está ultrapassado há mais de 5 anos e não pretendo trocá-lo tão cedo e acho que os novos desenhos e programas que passam na tv são enjoativos, vazios e puramente com fins comerciais. Não se faz mais brinquedos como antigamente e as brincadeiras de muleque na rua se transformaram em atividades sedentárias diante de uma tela. Em tempos de crise, pergunto-me porque não adotar a política do New Deal e tenho horror a tudo que tenha como prefixo o "Neo" (neoliberalismo, neopopulismo, neometal, neoprogressivo, neopentecostal, neoetc.).

Nossa época é estéril para a criatividade e fértil para os clichês. O mundo gira cada vez mais rápido e sinto-me como uma pedra no fundo do rio, que se recusa a seguir a correnteza. Por favor, parem tudo que eu quero descer...

Abraços,

Jack Waters

Um comentário:

  1. Espetacular, simplesmente fabuloso:"pare o mundo que eu quero descer"...
    Relata a história de um jovem que se impressiona com a sua ida para a cidade grande, e lá encontra coisas que ele nem imaginava que existiam, ou então existiam e ele nem se quer mantinha contato por morar numa cidade de "interior" como assim ele descreve.
    Um jovem culto, de gosto bastante apurado e que aprecia as coisas antigas,tais como discos de vinil,vitrolas, etc...
    História bem interessante que nos ensina a dar valor a coisas antigas e a deixar de lado as coisas horriveis que o mundo tem a nos oferecer que verdadeiramente não prestam...
    Pare e reflita
    O que é melhor? Morar numa cidade do interior e nos adequar ao modo de vida antigo sem esquecer do mundo lá fora e vivendo a nossa vida de um modo saudável aceitando ou não o que o mundo tem a nos oferecer sabendo o que é certo ou errado, ou morar na cidade grande e se adequar as coisas que o mundo tem a nos oferecer sem separar o que é certo ou errado?
    Faça a sua escolha...
    Espero que seja a escolha certa...
    Pois não é preciso morar no interior para saber separar o certo do errado,basta ter conhecimento e saber usá-lo...
    Bjus...
    Até a próxima...

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