Um dia chuvoso
Num dia frio e nublado de julho, a chuva forte cai sobre a selva de pedra,metal e asfalto, inorgânica. Acompanhada, o vento sopra gelado as folhas caídas nas calçadas que dançam aquela bela e misteriosa canção. Nas avenidas movimentadas, os automóveis vazios passam depressa, deixando para trás uma brisa barulhenta.
Refletia calmamente enquanto andava pela calçada observando o vaivém frenético e contínuo ao seu redor. Admirava, em sua caminhada, detalhes que geralmente passavam despercebidos pelas outras pessoas. Um hidrante vermelho desgastado pelo tempo, uma placa de um amarelo vivo, uma leve fumaça saindo da chaminé de uma das casas da antiga e simpática ruazinha estreita semi-abandonada, o verde das poucas árvores acinzentado pela chuva e pela fumaça dos carros. Aqui e ali, buscava uma forma diferente, uma cor mais viva. Encantava-se com as formas e cores como uma criança curiosa a explorar o mundo.
Contemplava agora as grandes imagens dos anúncios espalhados por onde passava. Um em especial chamou-lhe a atenção. Era diferente e encantador, não tinha aquele sorriso padrão da propaganda, mas apenas aquele frasco de perfume de um azul profundo, tão profundo que parecia tocar-lhe a alma.
O frio apertou-lhe, fechou seu casaco mais próximo ao corpo e apressou o passo. Era fantástica aquela sensação, a chuva caindo sobre seus ombros, o vento abraçando-a por inteiro e o corpo úmido tremendo, tentando se aquecer enquanto os olhos corriam de um lado para o outro, sempre observando, atento aos detalhes, às expressões, à arte na pedra e a arte da natureza. Buscava na realidade morta a expressão viva, tímida, abafada. O grito de dor de um poeta mudo.
Estava tomada de admiração, todos aqueles detalhes pareciam pulsar em seus olhos. Sentia-se feliz. As pessoas que passavam a seu lado pareciam estar ocupadas demais para admirar aquele espetáculo.
Acompanhava cada olhar distante, cada passo apressado e cada respiração ofegante ao seu redor.
- Desculpe, moça - disse um apressado senhor que lhe esbarrara no ombro, correndo para tomar o ônibus.
Pensava na graça da vida humana e suas contradições. Observava as pessoas na rua caminhando sem parar, sem se olharem ou falarem. Nos cruzamentos, os carros paravam ao sinal vermelho, algumas crianças famintas e esperançosas vendiam doces e faziam malabarismos, enquanto os ternos e vestidos com jóias passavam sem desviar o olhar.
Para cada pessoa que olhava, sentia que seu interior gritava desesperadamente querendo sair, como a larva que luta incansavelmente para abandonar seu casulo e experimentar a vida.
E assim continuava sua caminhada a observar as cores,as formas, pessoas e os automóveis indo e vindo...
Abraços,
Jack Waters
Nenhum comentário:
Postar um comentário