sábado, 27 de junho de 2009

O primeiro assalto a gente nunca esquece

Hoje, para variar um pouco, contarei um "causo" que aconteceu comigo já há um tempo e que todo mundo me pergunta detalhes quando comento algo a respeito: a primeira vez que fui assaltado.

Moro em uma cidade pequena, do interior. Em toda a minha vida nunca fui assaltado por aqui, mas em uma fatídica viagem, que durou apenas 25 horas, minha vida foi marcada por este fato inusitado.

O ano era 2007, eu havia viajado com um amigo para o Rio de Janeiro para assistir ao último show do Roger Waters no Brasil (pra quem não conhece, esse foi o cabeça do Pink Floyd, o grande compositor por trás de clássicos como The Wall e The Dark Side of the Moon). Era minha última oportunidade de ver de perto um dos meus maiores ídolos e eu não podia perder.


Pois bem, fomos para o Rio só com a roupa do corpo, a carteira, o celular e nada mais. O plano era tomarmos o primeiro ônibus do dia do show (que saía daqui à meia noite) e chegarmos lá de manhã (são aproximadamente 6 horas de viagem). Havíamos sido informados que a pista estava com alguns problemas em um dos trechos da viagem e que, portanto, a viagem deveria atrasar. Como o próximo ônibus só sairia ao meio dia - e precisávamos estar lá antes da noite - não quisemos arriscar e fomos no de meia noite mesmo. A porra da viagem não atrasou nem um minuto, para nosso azar, e chegamos pontualmente às 6 da manhã, sendo que o show só seria as 21h.

Passamos o dia na rodoviária Novo Rio, andando pra lá e pra cá e sentando nos bancos pra esperar a hora passar (e que raio de hora que não passava!). Os portões do local do show(Praça da apoteose) só seriam abertos às 17h e prefirimos ficar na rodoviária até às 15h, pelo menos (também tínhamos que esperar a prima desse meu amigo que tinha comprado os ingressos pra gente para entregá-los-nos e ela só sairia do trabalho por volta desse horário).

Quando estava próximo das 13h, bateu aquela fome (até então só havíamos comido alguns sanduíches) e tudo na Novo Rio era muito caro. Perguntamos a alguem por ali se havia algum restaurante por perto e fomos indicados a um numa rua ali em frente.

Pausa para descrever o cenário ao redor:

Olhando pelas muitas aberturas da rodoviária, para qualquer lado que se dirigisse os olhos havia uma favela. A paisagem chegava a ser marrom. Maluco, era morro pra tudo quanto é lado! A tal rua do restaurante ficava no pé de um e, por algum motivo completamente idiota, nós resolvemos arriscar ir até lá, sem a menor noção do perigo até então.

Descemos e fomos tranquilamente para a toca do perigo, achando uma tremenda sorte fato de haver um restaurante barato ali por perto (doce inocência). Havia um... eu não sei descrever aquilo, mas era um lugar coberto, como se fosse um grande corredor, por onde passavam alguns ônibus que circulavam pela cidade (isso já em frente a rodoviária e não dentro dela), onde se encontrava um fluxo frenético de pessoas e algumas tendinhas de doces e afins. Foi ali que aconteceu.

Caminhávamos normalmente, conversando, até que, em uma pilastra que havia no meio da calçada, dividimo-nos. Foi coisa de segundos mesmo. Neste pequeno intervalo de tempo, um rapaz magro, de aspecto pobre, veioa té mim com uma daquelas paradas de madeira usada por engraxates, oferecendo-me uma limpeza no tênis com um tal produto, muito vagabundo pelo visto. Recusei, mas ele insistiu e insistiu. A esta altura, meu amigo que não tinha olhado pra trás já estava la na frente, visto que eu comecei a andar mais devagar depois que o cara ficou me oferecendo o serviço. Apressei o passo para alcançá-lo, mas o muleque veio atrás. Quando finalmente cheguei até ele, o cara não desistiu até que eu (burro pra caralho) resolvi deixá-lo limpar meu tênis.

Meu amigo já estava olhando com aquela cara de "puta que pariu", mas eu ignorei. Queria realmente acreditar que o rapaz era mesmo um trabalhador que só tava querendo ganhar um dinheiro honesto porque passava necessidades (quando se cresce em uma cidade ingênua do interior que desconhece o abismo da maldade humana, tende-se a ter esta confiança idiota nas pessoas). Não poderia estar mais enganado.

Enquanto ele limpava meus 2 pés, um outro rapaz passou ao lado e gritou "Paga direito aí, hein!". Aí que eu comecei a me ligar que estava entrando numa furada, mas já era tarde. Terminado o serviço, o "engraxate" disse:

- É três e vinte.

Tirei o dinheiro e lhe entreguei, ao que ele responde:

- Não, é 13 e 20.

Aí eu pensei "puta que pariu!!" mas mantive a calma e perguntei ao meu amigo se ele tinha 10 reais. O filho da puta do muleque completa:

- É 13 e 20 em cada pé.

Fudeu!!

Fui pegando, com muito pesar, todo o dinheirinho que estava levando para os gastos da viagem (sorte que as passagens de volta já estavam compradas, assim como os ingressos para o show). Quando já não tinha mais nada (exceto 10 reais que consegui TIRAR DO BOLSO SEM QUE ELE VISSE E COLOCAR DE VOLTA), ele termina de ferrar tudo:

- Não, é 3 de 20!

Daí eu gelei. Eu não tinha aquela grana. Olhei pra ele com um misto de raiva e preocupação. Queria enfiar um soco na cara do infeliz (era um rapaz franzino, magrinho, desarmado), mas temi pelos companheiros dele ao redor. Não tinha como fugir, estávamos cercados. Como não consegui nem falar, meu amigo respondeu:

- Não temos não, cara!
- Não tem nem mais um real aí?

Tirei uma nota de 1 real que tinha e lhe entreguei, já saindo com meu amigo de volta pra rodoviária a passos rápidos. Ficamos mudos por um bom tempo depois, no maior cagaço. Minha maior preocupação era que acontecesse novamente. Eu estava só com 10 reais no bolso, que usaria para comer. Se alguem me assaltasse de novo e eu não tivesse um puto pra dar, o cara provavelmente ia achar que eu o estou sacaneando e ia me matar.

Apesar de ser um lugar muito movimentado e que requer segurança reforçada, a Novo Rio não conta com uma força policial muito expressiva (o que reforçou nossa preocupação pelo resto do dia)

Felizmente tudo correu bem depois disso, sem maiores incidentes. O show foi absurdamente fantástico (até o show do Kiss, este ano, aquele havia sido o melhor show da minha vida) e conseguimos voltar sãos e salvos para a casa, depois de passar a noite na rodoviária maldita e eu até cheguei a desmaiar durante o show, mas os detalhes ficam pra uma próxima postagem.

Abraços,

Jack Waters

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