quarta-feira, 17 de junho de 2009

A partida

Sei que alguns já devem estar saturados de poemas, mas meu estado de espírito hoje me conduz a isso. Gostaria de compartilhar com vocês o meu poema preferido, do autor Augusto Frederico Schmidt. Recomendo altamente que baixem esta versão em MP3 declamada por Paulo Autran (Acreditem, é MUITO linda):
http://www.sendspace.com/file/0fmz9i
A Partida


Quero morrer de noite
As janelas abertas,
Os olhos a fitar a noite infinda.

Quero morrer de noite.
Irei me separando aos poucos,
Me desligando devagar.
A luz das velas envolverá meu rosto lívido.

Quero morrer de noite
As janelas abertas.
Tuas mãos chegarão aos meus lábios
Um pouco de água.
E os meus olhos beberão a luz triste dos teus olhos.
Os que virão, os que ainda não conheço,
Estarão em silêncio,
Os olhos postos em mim.

Quero morrer de noite
As janelas abertas,
Os olhos a fitar a noite infinda.

Aos poucos me verei pequenino de novo, muito pequenino.
O berço se embalará na sombra de uma sala
E na noite, medrosa, uma velha coserá um enorme boneco.
Uma luz vermelha iluminará um grande dormitório
E passos ressoarão quebrando o silêncio.
Depois na tarde fria um chapéu rolará numa estrada...

Quero morrer de noite
As janelas abertas.
Minha alma sairá para longe de tudo, para bem longe de tudo.

E quando todos souberem que já não estou mais
E que nunca mais volverei
Haverá um segundo, nos que estão
E nos que virão, de compreensão absoluta.


(Augusto Frederico Schmidt)

Abraços,

Jack Waters

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