sexta-feira, 24 de abril de 2009

Sorria, você está sendo filmado!

Hoje estava eu em uma pequena loja de propagandas para automóveis, quando me deparei com esta frase, num daqueles adesivos de empresas de segurança. Atentei para cada canto das paredes do lugar e não vi nenhuma câmera, por menor que fosse. Este ato simples me trouxe a idéia que culminou no tema de hoje do blog: Qual o limite entre segurança, medo e privacidade?

Em nossa sociedade moderna, a violência e o crime organizado se tornaram infelizes realidades cada vez mais comuns, forçando as pessoas que possuem patrimônios a proteger a todo custo os mesmos. Daí começaram as explosões de equipamentos de segurança: câmeras, cercas eletrificadas, cães de grande porte, alarmes... o que era luxo de mansões virou necessidade básica de qualquer casa de classe média e, aos poucos, vemos as residências se transformarem em verdadeiras fortalezas. Mas, será que não estamos exagerando?

Tudo bem, o crime existe e não podemos dar mole. Mas a que custo estamos nos protegendo dessa ameaça? Aqui na minha rua por exemplo, minha casa é uma das poucas que não possuem nenhum equipamento de segurança(exceto por um pinscher e uma vira-latas) e, em 11 anos que moro aqui, nunca foi roubada. Isso me leva a pensar na causa de tantas precauções: o medo.

A mídia nos alarma todos os dias sobre a violência, os roubos, as mortes, etc etc. Ficamos com tanto medo de acontecer conosco, com a nossa família, com nossos bens que nos tornamos extremamente suscetíveis à propaganda dos equipamentos de segurança e de proteção 24h, que surgem como os salvadores da pátria(ou do patrimônio). Em teoria, é tudo bonito: Nós pagamos a eles para que nos protejam de todo o mal do mundo exterior, enquanto nos refugiamos em nossas prisões particulares. Aos poucos, esse medo nos faz acreditar que todos os seres humanos exteriores ao nosso lar são falsos e perversos ou, no mínimo, deve ser encarados com um pé atrás. Isso acaba isolando as pessoas, individualizando ao máximo a sociedade e gerando mais medo, que vai acarretar em mais segurança, fechando o ciclo vicioso. Basta ver como as pessoas que vivem em bairros pobres, sem tanta preocupação com segurança, socializam-se muito mais do que os moradores de bairros nobres, que se escondem em suas casas, ocasionalmente colocando a cabeça para fora da janela.

Tanta segurança leva a outro ponto, que eu gostaria de discutir: A invasão de privacidade.

Digamos que você está saindo de sua casa para ir ao banco. No caminho, você resolve passar no supermercado e, logo de cara, vê um aviso: "Sorria, você está sendo filmado!". Se você não esteve morando em Marte nos últimos anos, encarará o fato como algo rotineiro, banal. Você faz suas compras normalmente, porém, ao passar pela seção de frutas, você pensa duas vezes antes de pegar uma uva ou uma banana para comer, pensando se alguem está vigiando. Terminadas as compras, você vai para o banco. Ao chegar, já dá de cara com o mesmo tipo de aviso: "Sorria, você está sendo filmado", beleza, nada demais. No entanto, enquanto espera na fila, você resiste àquela coçada no nariz ou nas partes íntimas(no caso dos homens), pensando novamente se estão olhando.




Aos poucos, vamos nos tornando mecânicos e cautelosos. A simples idéia de sermos vigiados o tempo todo nos impõe um certo controle. Se você estiver trabalhando no escritório, com uma câmera apontada pra você durante todo o expediente, você agirá mecânicamente, de modo a não contrariar os interesses da empresa. Mesmo que a câmera esteja desligada, você se policiará pela simples presença do ícone repressor.

Estaríamos entrando numa era que foi prevista por George Orwell, mais de 40 anos atrás? Estaria o Grande Irmão nascendo? Como será viver em uma sociedade em que somos observados 24h por dia? Provavelmente, não muito distante da realidade dos grandes centros urbanos de hoje.

Estamos entregando nossa liberdade de bandeja, em troca de uma falsa sensação de conforto e segurança, e a solução, assim como o problema, está em nós. Quando nos preocuparmos mais com educação do que com segurança, não mais teremos que nos preocupar com segurança.

"Educai a criança hoje para não ter que punir o adulto amanhã" - Pitágoras

Abraços

Jack Waters

5 comentários:

  1. ótimo artigo camarada.
    Tipico do ser humano criar mecanismos que garantam a sua sobrevivencia. Já não sabemos quem é mocinho ou bandido e vale tudo para a proteção do que se conquista e de quem amamos. Fato, como é todo o sistema humano existem as limitaçoes e preços a serem pagos. A segurança não é de toda a ganrantia assim, mas a falta de privacidade, há essa sim vence em disparos.

    Abraços.

    ResponderExcluir
  2. que texto lindo kra
    eu tava pensando no Orwell enquanto lia
    baita surpresa vc fazer o link com 1984muito bom
    se puder
    http://aflaudisiodantas.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  3. olha, situação difícil e delicada...mas acho que não tem jeito mesmo, cada vez mais estaremos sendo "vigiados"...realmente situação do mundo moderno e violento...

    ResponderExcluir
  4. Muito bom!!!!

    É, estamos mesmo caminhando para o "controle" total. A insegurança gera o medo e nossso medo nos faz aceitar esta invasão de privacidade. Estamos reféns da nossa própria criação.

    kisses.

    ResponderExcluir
  5. Nossa sociedade está rumando aos robores, Muahuahuahuahauhahuh, humanos não são o futuro, acredito eu. No maximo, ciborgues

    ResponderExcluir