sábado, 24 de novembro de 2007

Soletariamente Coletivos

Hoje, retornando dum modorrento curso de matemática, me dei a devaneios. Deu-se uns minutinhos, e lá estava eu, com meus pensamentinhos amadurecidos, frutas da árvore do pensar baldiano, mas com grande importância. Minhas frutas. E as frutas tratavam dum assunto com um sabor bem cáustico à atualidade – a solidão.

Quem aqui nunca se viu pensando em quão bom seria ter uma pessoa para conversar? Àqueles que responderam sim, digo-lhes que o sentimento não é raro. Por maior que seja nosso alcance comunicativo, sentimos falta do essencial. Do aprofundamento pessoal e emocional necessário ao homem, e, escasso na atualidade.

O complexo paradoxo advém dum simples fato. O paradigma contemporâneo não dá razão ao emocional do homem. Erigido sobre o sonho burgo-liberal, eleva a patamares gigantescos o capital e a matéria, secundarizando as emoções. Carros, belos rostos e roupas são elementos de maior valor hoje do que o próprio homem.

O nascimento deste insípido estado poderá ser encontrado na derrocada da antiga URSS onde o maior rival do capitalismo sucumbiu. Assim, este, tendo por findo o mundo bipolar, se veria irrestrito, senão por um elemento, o elemento humano. O proletariado gigantesco que agora ficava à disposição das grandes empresas, multinacionais e bancos.

Irônico que o proletariado – a massa humana – sempre foi uma grande dor de cabeça à burguesia, mas esta nunca existiria sem aquela. Era visível, seria necessário uma forma de controle. Surgiam os sonhos capitalistas; os carros, as casas próprias, os shoppings..

Apesar disso, a criação de sonhos não ocorreu de forma natural. Bombardeados com essas necessidades tão desnecessárias a nós, às vezes sentimos uma inaturalidade, que, recrudescida, nos leva a um denso mal estar. O sentimento de solidão nasce.

Um medicamento contra a vil doença é o contato humano. Sair com os amigos, falar sobre tudo quanto possível, evitar o apartamento social causado pelas meios de comunicação. Perceber, enfim, quão natural e gostosa é uma boa conversa, quando pararmos de nos ater às imposições sociais e culturais que nos rodeiam, aí sim nos tornaremos elementos saudáveis.

Quando o homem passar a agir naturalmente, deixando de lado as imposições, não encontrará mais estados patológicos. Sejamos nós mesmos – por mais ninguém além de nós! Afinal, o egoísmo não é o sentimento que mais recrudesceu a coletividade através dos anos? Sigamo-lo!

2 comentários:

  1. Obrigado pelo elogio meu caro Pensamentos peculiares


    Eu tenho um automóvel já com uns anos. Tenho um colega que comprou há pouco um carro novo (relativamente caro) e está desejoso de comprar outro para a mulher.

    Um dia destes perguntei-lhe o que é que ele fazia com o carro. Pensou um bocado e respondeu: «vou e venho do emprego (10 km), vou ao supermercado (4 km), de vez em quando vou buscar o filho ao liceu (3 km) e ao fim de semana vou passear (60 km?).

    Para isto gastou quase 25.000 Euros no carro novo.

    Um abraço

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  2. Por outro lado a busca por contato pode ser uma fuga, pois no silêncio somos obrigados a aturar a nós mesmos...
    Acredito que existam dois diferentes tipos de contato humano: o "barulhento" e colorido, criado quase como uma forma de produto capitalista em bares e baladas, no qual buscamos apenas receber de diversas formas; e o "harmônico" no qual buscamos compartilhamos momentos, arte, idéias, carinho e diversão, no qual buscamos dar e receber. No primeiro o que importa é a quantidade e o valor estético dos contatos, na segunda vale a qualidade e o valor intrínseco dos contatos.
    Portanto, pessoas sociais podem muito bem estar presas num contexto similar aos "compradores", pois não passam de consumidores de contato humano.

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