domingo, 9 de agosto de 2009

Encruzilhadas

Recentemente tive uma importante conversa com um amigo meu que queria minha opinião sobre um assunto delicado: a escolha da carreira. Sei que sou inexperiente e não tenho muita qualificação para falar sobre o assunto, mas tenho uma visão que acredito ser razoável e vale a pena compartilhá-la.

Como alguns sabem, pretendo cursar uma faculdade de filosofia, apesar das muitas pressões externas para não levar este plano adiante. Muitas pessoas tentam me alertar sobre o fracasso, sobre as dificuldades, sobre o desemprego, etc etc. mas são pouquíssimas as que realmente se importam com o que eu sonho para minha vida. Tentam dissuadir-me, propondo que eu faça outro curso, como direito, em que o mercado de trabalho é mais amplo e o sucesso(em teoria), garantido.

Apesar de tudo, mantenho-me inflexível. Não há nada que me interesse - em termos de cursos de faculdade - além a filosofia, da história, da psicologia e de outras ciências humanas. O que eu viso, muito mais que o dinheiro, é buscar compreender o ser humano: nossos pensamentos, nossas emoções, nossa história, nossas raízes, nossas tendências, nossas crenças, enfim, todo o nosso ser. Quando paro para contemplar o imenso abismo dentro de mim mesmo e o gigantesco oceano de ignorância que me cerca, sinto-me compelido a aprender, a buscar mais e mais o saber e essa fome não pode ser saciada com nenhum dinheiro ou status.

Uma vez tendo experimentado a filosofia, o caminho é irreversível. Ela vicia, entorpece, proporciona experiências fantásticas, liberta. Fazendo uma analogia a Platão, uma vez fora da caverna, não se tem vontade de regressar às sombras e aos grilhões.

Claro que vou precisar de dinheiro para me alimentar e pagar as contas, mas não preciso ser rico para ser feliz.

E agora?

Sobre o meu amigo, ele atualmente está em dúvida entre cursar medicina - pela tranquilidade financeira - e psicologia - que é o que realmente gosta e tem potencial. Para expressar minha opinião a respeito, utilizei de um exemplo pessoal:


Primeiro perguntei se ele já havia trabalhado em um emprego temporário, desses que a gente necessita pra ganhar uma grana, como, por exemplo, funcionário de uma loja. Ele disse que sim. Perguntei-lhe se ele gostou realmente de ter trabalho no que ele fez e ele me disse que não(comigo acontece o mesmo).

Pois bem, eu disse, mas você sempre teve o alívio de pensar que o trabalho em que estava era apenas temporário, que você tem muitos planos para sua vida e que esta é apenas uma etapa necessária para realizá-los; agora imagine-se trabalhando em algo que não gosta pelo resto da sua vida, sem o alívio anterior, mas com o peso de saber que foi isso que você escolheu para si, que foi a profissão que você optou por se dedicar, estudar e seguir.

Esta perspectiva me parece, admito, um tanto aterrorizante, porém realista. É melhor visualizá-la agora do que vivenciá-la futuramente. Diante deste argumento, que ele refletiu bastante, apontou outro problema:

"Mas eu quero viajar, quero conhecer outros países, não quero passar fome."

Bem, eu disse, você está pensando apenas nos extremos. Ou no alto salário de um médico ou no salário medíocre da alternativa. As coisas não são bem assim. Se você for bom no que faz e fizer com paixão, não vai passar fome. Pode até não ter uma vida regrada de luxo e desperdício, mas vai ter condições de ter uma vida boa sim, sem exageros. Embora não vá poder viajar sempre que quiser, poderá perfeitamente fazer uma economia legal para fazer uma grande viagem uma vez por ano ou a cada 2 anos. Além disso, o tempo livre de um médico é muito escasso. Você teria dinheiro mas não teria tempo de aproveitá-lo, de forma que, nof im das contas, você só poderia viajar uma vez por ano ou a cada dois anos também. Ele concordou.

Por fim, disse-lhe que, entre ser rico e infeliz e fazer o que eu realmente gosto, tendo uma vida boa sem exageros, eu fico com a 2ª opção. Mas isto é uma opinião pessoal, a decisão final é inteiramente dele. Meu objetivo não foi convencê-lo a fazer esta ou aquela faculdade, mas fazê-lo refletir sobre as consequências de sua escolha.

Sem mais,

Abraços,

Jack Waters

Nenhum comentário:

Postar um comentário