quinta-feira, 23 de abril de 2009

Feriado Religioso? Não, viva o Dia mundial do Livro!

Como muitos sabem(e aos que não sabem, explicarei adiante), no dia 23 de abril é comemorado o dia do padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, São Jorge, com um feriado municipal.

Até aí, nenhuma novidade. Mas para os que moram em outras cidades fluminenses (que é o meu caso) a coisa se torna um pouco mais complicada: enquanto uns aderiram ao feriado e viajaram, outros preferiram ficar e trabalhar. Algumas escolas tiveram aula, outras não; enfim, uma bagunça. Na minha cidade, por exemplo, o comércio pretendia funcionar normalmente, mas devido à evasão dos consumidores, foi obrigado a fechar as portas mais cedo, cumprindo somente meio expediente.

Em outras cidades, prefeitos de outras religiões não reconhecem datas comemorativas regionais de santos católicos e, portanto, não decretam feriado. Este é o ponto de partida de minha reflexão.

Por que motivo, em um país teoricamente laico, como o Brasil, decretam-se feriados - nacionais ou regionais - em homenagem a figuras católicas? Por que cada cidade tem que ter o seu "padroeiro" e prestar homenagens a ele? O que essas pessoas ditas "santas" fizeram de grandioso que abrangesse a todos os grupos de pessoas, independente da classe social e religião?

Dois dias antes do feriado de São Jorge foi comemorado o feriado nacional de Tiradentes, uma figura histórica de grande relevância para o Brasil e um exemplo de luta por um ideal que deveria ser aprendido e seguido por muitos brasileiros. É, no mínimo, revoltante, constatar que milhares(ou até milhões) de pessoas jamais ouviram falar de Joaquim José da Silva Xavier, ou apenas o conhecem por nome, sem saber nem ao menos superficialmente sobre sua luta contra um governo tirano e corrupto do século XVIII, mas, ao mesmo tempo, conhecem com detalhes a fábula de São Jorge e do dragão. Digo fábula porque não me atrevo a cometer o sacrilégio de comparar um homem que realmente existiu e cuja biografia pode ser sustentada com amplos registros históricos e um ser fictício que mora na lua, traja armaduras medievais para enfrentar uma figura mitológica e que é conhecido apenas através do boca-a-boca e pela fé.

O que São Jorge fez de especial para o país, para a história, para o mundo? Absolutamente nada!

Mas, voltando ao tema central, porque havemos de ter feriados religiosos - que só abrangem uma parcela da população - com a mesma importância que damos a comemorações e homenagens realmente importantes, que abrangem a todos?

Por que temos um feriado nacional no dia 25 de dezembro, se uma boa fatia da população brasileira não é cristã? Por que outro, de Nossa senhora de aparecida no dia 12 de outubro, se eu não sou católico? Por que não há feriados em datas festivas judaicas ou budistas? Por que não há um em homenagem a Darwin, ou Newton, que deixaram um legado importantíssimo para toda a humanidade?

Onde está a laicidade? Por que um muçulmano, um evangélico, um judeu, um ateu, um umbandista, por exemplo, tem que ficar em casa e parar todo o seu ritmo de trabalho por causa da presunção de outra religião?

Por esse motivo, neste dia 23 de abril, eu não presto homenagem a nenhum santo ou festividade religiosa; eu comemoro o Dia mundial do livro.

Por que? Porque os livros são a principal fonte de conhecimento, cultura e arte que existe. Um verdadeiro tesouro ao alcance de todos. Como disse sabiamente Monteiro Lobato: "Uma nação se faz com homens e livros".

O livro é um transporte para o cerne da essência humana, uma viagem para o núcleo de nós mesmos e uma inesgotável fonte de saber. Sem eles, nunca teríamos chegado ao nível de compreensão que chegamos acerca da natureza, do universo e do ser humano; ainda estaríamos presos a um sistema arcaico de agricultura de subsistência e a sociedade, como a conhecemos hoje, jamais existiria. Não haveria médicos, engenheiros, professores, juízes nem nenhum tipo de profissional de qualquer área.

Portanto, por ter nos guiado durante toda a nossa história e ter sido de fundamental importância para a humanidade, o livro merece, no mínimo, nossa sincera homenagem.

Felizes os que lêem, pois a eles pertence a liberdade.

Abraços

Jack Waters

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